quarta-feira, 21 de março de 2012

VARIAÇÕES LINGUÍSTICAS

VARIANTES LINGUÍSTICAS

O que vem a ser Linguagem?
Linguagem é qualquer sistema de códigos que possibilita comunicação
A mais complexa de todas as linguagens  é a linguagem falada
Ela é complexa porque quando falamos precisamos ter uma padronização para que possamos ser entendidos.
O que vem a ser Língua?
Língua é um sistema sonoro e escrito que caracteriza a comunicação de uma coletividade. Ex: português, francês, inglês, alemão, japonês etc.
Vamos falar da nossa língua: Língua Portuguesa

Será que no Brasil só existe uma forma de falar o Português?
Diferentes manifestações de uma mesma língua = Variedades Linguísticas

Luiz Fiori define Variação Linguística:
                “A variação é inerente às línguas porque as sociedades são divididas em grupos. Há os mais jovens, os mais velhos, os que habitam uma região ou outra. Os que têm essa ou aquela profissão. Os que são de uma ou outra classe social. E assim por diante.”

                O uso de determinada variedade linguística serve para marcar a inclusão num desses grupos, dar uma identidade.

PADRÃO

q  Aprendida na escola
q  Utilizada nos livros, na gramática.
Disseram-me que você estava na escola

NÃO-PADRÃO

q  Preconceito
Me disseram que tu tava na escola

Pronominais
(Oswaldo de Andrade)
Dê-me um cigarro
Diz a gramática
Do professor e do aluno
E do mulato sabido
Mas o bom negro e bom branco
Da Nação Brasileira
Dizem todos os dias
Deixa disso camarada
Me dá um cigarro

É “errado” dizer “Me dá um cigarro” porque o cigarro causa muitos males à saúde, mas a sentença em si é gramatical, ou seja, gera comunicação, embora de uma maneira não prevista pela linguagem padrão.

Mais importante que usar sempre o português dito “correto”, é saber escolher a variedade linguística adequada para cada situação.
O Emissor é quem decide se vai utilizar a formalidade (Língua Padrão) ou a informalidade (não-padrão).
Assim como a roupa, a linguagem também deve ser adequada ao ambiente em que se está
A Gramática deve ser usada a favor das nossas intenções.

Por que uma mesma língua apresenta variedades linguísticas?
Porque ela é dinâmica, e não estática

n  LÍNGUA PADRÃO
                Obedece às normas gramaticais.

n  LÍNGUA NÃO-PADRÃO
                Não tem compromisso com as normas gramaticais.

As variações linguísticas ocorrem na Língua Portuguesa por diferentes motivos:
n  extensão geográfica do Brasil;
n  diferenças regionais;
n  diversidade de colonização;
n  acentuada diferença socioeconômica.
                As variações também são chamadas de dialetos

SISTEMA LINGUÍSTICO = Conjunto de regras intuitivas
GRAMÁTICA NATURAL  = Regras intuitivas
GRAMÁTICA ARTIFICIAL =  Variedade linguística padrão

As variações dialetais “ocorrem em função das pessoas que usam a língua” (TRAVAGLIA, 1998, p.42)
           Variação geográfica (variação diatópica)
           Variação social (variação diastrática)
           Variação de idade
           Variação de sexo
           Variação histórica

A variação linguística pode ocorrer nos eixos diatópico e diastrático:
n  Eixo diatópico: as alternâncias se expressam regionalmente, considerando-se limites físico-geográficos;
n  Eixo diastrático:  elas se manifestam de acordo com os diferentes estratos sociais, levando-se em conta fronteiras sociais.

Variação Geográfica (variação diatópica)

n  diz respeito às variações ocorridas entre falantes de lugares diferentes, tais como Brasil e Portugal; Portugal e Angola; Região Nordeste e Região Sul; Rio de Janeiro e São Paulo; Belém e Maranhão, e assim por diante.




Música: Rita Lee - As mina de Sampa
 “(...) As mina de Sampa dizem mortandeila, berinjeila, apartameintu!
Sotaque do bixiga, mena cem pur ceintu.
As minas de Sampa conhecem a Bahia, por fotografia, que natureza!
Toda menina baiana vive na maior moleza.
As mina de Sampa dão duro no trampo, no banco, mãos ao alto!
Ou dá ou desce ou desocupa o asfalto.
Eu gosto às pampa das mina de sampa!”
(“Minas de Sampa” – Rita Lee e Roberto de Carvalho)

Música: os mirins o tranco da morena rosa



“Olha o tranco da morena rosa rebocada de rouge e batom.”
(“Morena Rosa” – Garotos de Ouro)

Na música “Morena Rosa” do Rio Grande do Sul:
            A Morena Rosa não caminha, ela tem tranco
            Ela não se maquia, ela se reboca
            Ela não passa blush, ela passa rouge

Música: Fafá de Belém - Vermelho (Ao Vivo)



“A cor do meu batuque tem o toque e tem o som da minha voz.
Vermelho, vermelhaço, vermelhusco, vermelhante, vermelhão.
O velho comunista se aliançou ao rubro do rubor do meu amor.
O brilho do meu canto tem o tom e a expressão da minha cor vermelho.”
(“Vermelho” – Chico da Silva)


Variação Social (variação diastrática)
n  Refere-se  às marcas linguísticas que ocorrem de acordo com a classe social dos usuários da língua.
n  Os jargões de profissões, os de determinados grupos sociais e as gírias representam formas de variações linguísticas sociais.  
n  Atribuem aos grupos uma identidade pela linguagem.

Exemplo: SAMBA DO ARNESTO - Demônios da Garoa & Adoniran Barbosa



“O Arnesto nos convidou prum samba ele mora no Brás, nois fumo e num encontremos ninguém, nois vortemos cum uma baita duma reiva, da outra veiz nóis num vai mais, nóis num semos tatu.” - Samba do Arnesto - (Adoniran Barbosa - Demônios da Garoa)

Música: Bezerra da Silva -Malandragem Dá Um Tempo



“Eh, você não está vendo que a boca está assim de corujão, tem dedo de seta adoidado, todos eles afim de entregar os irmãos.” - “Malandragem dá um tempo” - (Bezerra da Silva – Barão Vermelho)


Música: Gilberto Gil - A Novidade




“A novidade veio dar à praia, na qualidade rara de sereia
Metade o busto de uma deusa Maia, metade um grande rabo de baleia.
A novidade era o máximo, do paradoxo estendido na areia
Alguns a desejar seus beijos de deusa
Outros a desejar seu rabo prá ceia.”
(A Novidade - Gilberto Gil)


Variação de idade
n  relaciona-se às variações “decorrentes da diferença no modo de usar a língua de pessoas de idades diferentes [...]”
n  Ex: _Qual é a sua graça?
                mulher grávida = “senhora em estado interessante”;
                mulher menstruada = “incomodada” ou “com regras”

Variação de sexo
n  refere-se às “variações de acordo com o sexo de quem fala”
n  Exemplo: Revistas tipicamente direcionadas para o público masculino e para o público feminino.

Variação histórica
n  diz respeito às fases no desenvolvimento da língua.

Canção de Amigo

Ai flores, ai, flores do verde pino
Se sabedes nova do meu amigo?
ai, Deus, e u é?
Ai flores, ai, flores do verde ramo,
Se sbedes novas do meu amado?
ai, Deus, e u é?
Se sabedes novas do meu amado,
aquel que mentiu do que mi á jurado?
Ai, Deus, e u é?
(FIORIN, 2007, p.38-39)

Pino (pinheiro)
sabedes (sabeis)
u (onde), é (está)
aquel (aquele)
á jur ado (= há jurado = jurou)



IMPORTANTE;

n  Não existe, em geral, um nível de linguagem puro, nem na fala, nem na escrita.    O que se observa é a predominância de uma ou outra variante lingüística.


LÍNGUA PADRÃO

Ø  Utiliza as normas ditadas pela gramática tradicional.
Ø  Não está relacionada ao uso de palavras mais ou menos difíceis, mas sim à utilização das regras de concordância, regência, ortografia, pontuação, bem como ao adequado uso dos pronomes pessoais do caso reto, oblíquo, possessivos etc.

_ João está em casa?
_ Não o enxerguei hoje.
_ Por quê?
_ Desculpe-me mas o assunto é entre mim e ele
Diálogo marcado por um total respeito às regras gramaticais.

Característica do nível culto.

A importância de sua preservação se deve
q  à necessidade de haver uma referência para o ensino da língua e para o registro histórico.
q  É de essencial utilização em qualquer texto escrito.

Técnicos

Cada grupo de profissionais possui um vocabulário técnico que também o caracteriza.
Aparecem normalmente mesclados à Língua Padrão.

_ Você tem uma cefaléia curável.
_ Doutor, o que é isso?
_ É dor de cabeça, minha senhora.

LÍNGUA NÃO-PADRÃO

Ø  É o uso informal da Língua Portuguesa.
Ø  Não há preocupação com o dicionário ou  a gramática.
Ø  As normas são seguidas sem o rigor da formalidade.
Ø  Ocorre um relaxamento da língua pela comodidade da comunicação.

Coloquial

                É uma linguagem familiar ou popular que permite a ausência de algumas concordâncias, infração das regências e da colocação de pronomes oblíquos.
                Podemos começar uma frase como:  “Te levanta”, ou ainda, “ A gente vai prá casa da vó”

_ João está em casa?
_ Não enxerguei ele hoje.
_ Por quê?
_ Desculpa, mas o assunto é entre eu e ele

Vulgar

Ø  É a utilização da língua sem nenhuma correção gramatical.
Ø  Evidenciam-se palavras com pronúncias diferentes como pobrema ou poblema, e estruturas de palavras sem a interferência da língua padrão ou formal como os verbos peguemo, sobremo, avisemo, entre outros.
Ø  Essas ocorrências verificam-se no ambiente em que as pessoas possuem pouca ou nenhuma escolaridade.

_ Cê viu o João hoje?
_ Não. Eu fui e vortei e num encontrei cum ele.
_ Pru quê?
_ Descurpa mais o assunto é entre eu i ele.

Gíria

A gíria evolui com o tempo e varia também nos grupos.
                Por exemplo, jovens de regiões diferentes, de ambientes familiares diferentes entendem-se através de expressões também diferentes; a gíria dos presídios difere da gíria do futebol, do skate, do surf e, uns nem sempre entendem o que os outros falam; as gírias dos vários redutos marginalizados se diferenciam também, muitas vezes, para garantir a sobrevivência dos moradores e dos que lá comandam.
Enfim, cada grupo cria a linguagem que o vai identificar.  Ta ligado?   Então sai da asa, cai na real e te liga nos próximos exemplos!

_Hoje peguei um tubo maravilhoso  e depois fui dropando a onda.
_ Meu Deus, que língua é essa?

Regional

_ Maria tu já compraste o cacetinho para o café?
_ Mas o que é isso Pedro, ficou louco?
_ Bah, mas por quê? Cacetinho é pão francês. Hoje, Maria, tu estás mais atravessada que jornal de domingo!
No sul se come cacetinho (pão francês) , negrinho (brigadeiro) e torrada (mixto quente)


Estrangeirismos

Ø  são termos importados de outras línguas e utilizados como se fossem da língua materna, como por exemplo shopping, marketing, stress, abat-jour, happy hour, entre outros

Música: Samba do Approach - Zeca Pagodinho e Zeca Baleiro



Venha provar meu brunch
 
saiba que eu tenho
approach  na hora do lunch  eu ando de ferryboat

eu tenho savoir-fairemeu temperamento é lightminha casa é hi-techtoda hora rola um insightjá fui fã do Jethro Tullhoje me amarro no Slashminha vida agora é coolmeu passado é que foi trash [...] “
(Samba do Approach - Zeca Baleiro e Zeca Pagodinho)

Na escrita, essas expressões diferentes do padrão, por exemplo, o estrangeirismo e a gíria necessitam ser escritas entre aspas ou devidamente salientadas.
                               Esse recurso mostra que o emissor da mensagem domina os níveis de linguagem e sabe adequá-las à sua necessidade.


Outro ponto a ressaltar é que em textos literários como crônicas e romances todas as variações linguísticas podem ser utilizadas sem destaque especial, uma vez que buscam refletir a fala de personagens, ou até, estabelecer um diálogo de aproximação com o leitor.
                               A esses registros chamam-se literários.

Um país pode conviver com mais de uma língua, como é o caso do Brasil:
Somos plurilíngues, pois, além de português, há em nosso território   cerca de 180 línguas indígenas, de comunidades étnico-culturalmente diferenciadas, afora as populações bilíngues que dominam igualmente o português e línguas do grupo românico, anglo-germânico e eslavo-oriental, como em comunidades multilíngues

q    português-italiano,
q    português-espanhol
q    português-alemão,
q    português-japonês.

q  A linguística volta-se para todas as comunidades com o mesmo interesse científico e a Sociolinguística considera a importância social da linguagem, dos pequenos grupos socioculturais a comunidades maiores.

q  Toda língua, portanto apresenta variantes mais prestigiadas do que outras.

q  Os estudos sociolinguísticos oferecem valiosa contribuição no sentido de destruir preconceitos linguísticos e de relativizar a noção de erro, ao buscar descrever o padrão real que a escola, por exemplo, procura desqualificar e banir como expressão natural e legítima.

5 comentários:

  1. Adorei essa postagem, me ajudou bastante em um trabalho, e que continue enriquecendo de informações, principalmente sobre linguística e literatura.

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  2. Meu estudo extracurricular sobre comunicação humana terá alguma ênfase em seu conteúdo. Obrigado. Desejo a você o melhor da vida!

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  3. uma porcaria procurei misto quente e só enganação.

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  4. Este comentário foi removido pelo autor.

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